11.9.09

 

 

A lagoa de Óbidos.
A Foz do Arelho é uma localidade que fica junto ao mar, na margem Norte da lagoa de Óbidos e a cerca de 8 Km das Caldas da Rainha. O areal da praia da Foz do Arelho estende-se entre a “aberta” da lagoa de Óbidos (canal de ligação da lagoa com o mar) e o início da Serra do Bouro (zona rochosa a norte). Na margem sul da lagoa de Óbidos, também junto ao mar, fica a aldeia do Bom Sucesso. A partir desta localidade estende-se, para Sul, um areal com mais de dez quilómetros até ao Baleal, já próximo de Peniche.

 

Sendo a lagoa de Óbidos, a maior lagoa de água salgada da Europa, logo se percebe da sua importância para a desova, reprodução e alimentação de várias espécies piscícolas da nossa costa (entre as quais se destacam o robalo, a dourada, linguado e  enguia).
Para além da grande diversidade de moluscos bivalves (berbigão, amêijoa, lingueirão e mexilhão) que habitam na lagoa de Óbidos, esta é também rica em vermes anelídeos (casulo, “grilo” e minhoca da lagoa) e moluscos (chocos, por exemplo). Esta abundância de alimentação constitui um factor importante para a fácil reprodução e crescimento de robalos, douradas e outras espécies na lagoa.
Não obstante, tem-se assistido nos últimos anos à degradação do frágil equilíbrio natural desta lagoa, constantemente ameaçado pela pressão urbana e, de um modo especial, pelo assoreamento da barra de que resulta a eutrofização (proliferação de algas que consomem o oxigénio da água) e pela poluição do rio Arelho causada pelas descargas da indústria pecuária e pelos pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura (que têm também ajudado muito ao processo de eutrofização acima referido pois os fosfatos contribuem para o acelerado crescimento das algas).
De ano para ano tem-se notado um decréscimo considerável das capturas de robalos (não só devido à poluição e assoreamento da lagoa, mas também ao aumento da pressão de pesca não selectiva), mas apesar disso, muitos são os pescadores que costumam frequentemente tentar a sua sorte ao corrico. Convém, pois, que face à situação de ruptura, sejam devolvidos à água todas as espécies que não tenham as medidas mínimas legais, optando-se assim por uma pesca selectiva e consciente.
O Corrico
A época alta da pesca ao corrico do robalo na Foz do Arelho, costuma ser em Abril/Maio e Setembro/Outubro, ocorrendo também a pesca de grandes exemplares entre Janeiro e Março, no período da desova. Especialmente durante o final do Verão, muitos são os pescadores que todos os anos lá vão passar férias e matar saudades dos amigos e da pesca.
O corrico consiste no lançamento sistemático de uma amostra artificial e no recolher de forma continuada da mesma, que faz com que a amostra “trabalhe”, isto é, faz com que ela produza um movimento análogo ao de um peixe vivo e que atraí o robalo. Esta técnica de pesca apenas funciona com espécies piscícolas predadoras, de que são exemplos mais frequentes na nossa costa, o robalo, a baila e a anchova (e, por vezes, uns agulhas que pagam caro a sua curiosidade).
A amostra por excelência usada para pescar dentro da lagoa ou no canal de ligação desta ao mar é o chamado “pipo de bicicleta” ou “chico fininho” . Esta amostra, de fabrico manual e cor amarelada (a tender para o castanho), procura imitar a “angula” (enguia miúda) que todos os anos chega a estas paragens depois de uma longa migração desde o mar dos Sargaços, onde nascem. A enguia é uma espécie bastante abundante na lagoa de Óbidos, sendo as mais jovens umas das presas mais apreciadas pelo robalo. O tamanho usado para estas amostras situa-se entre os 6 a 8 cm. O principal aspecto a focar do “pipo de bicicleta” é a sua cauda com uma amplitude de cerca de 45º em relação ao corpo. Esta cauda curva dá ao “pipo” um trabalhar estilo ventoinha dentro de água. Este rodopiar constante produz bastantes vibrações na água que serão um dos factores importantes para chamar a atenção do robalo à sua presa (não esquecendo que as águas propagam o som bastante melhor que o ar).
Quando se pesca directamente na ondulação do mar (que fica junto à “aberta”) já é habitual usarem-se amostras (“raglou”, “red gill”, etc) que imitam peixe miúdo (petinga, biqueirão, etc) e costumam variar em tamanho entre os 8 e os 12 cm. A cor mais usada é o branco/verde (verde na parte dorsal e branco na barriga), verde fluorescente e branco/rosa. As “storms” ou “rapalas” que imitam peixes (a mais famosa é a “storm” que imita uma petinga, de cor azul e cinzento metalizado, muito reflectora) são mais usadas à noite.

 

 

O pipo de Bicicleta.

 


Outras amostras usadas na Foz.
 

 

Geralmente, a pesca ao corrico faz-se durante a maré vazia, por forma a aproveitar a forte corrente que entra mar adentro. As últimas horas da vazante, primeiras da enchente, costumam ser as que melhores resultados dão, pois costuma ser o momento ideal para o peixe entrar na lagoa. O início da vazante costuma também ser bom. Por vezes, quando a “aberta” corre com força e a direito pelo mar adentro e quando a corrente da lagoa não trás muitas algas é costume “dar-se linha” (deixar que a corrente leve a amostra mar fora), não sendo raro esgotar a linha do carreto. Quanto mais “dentro do mar” estivermos, maior a probabilidade de apanharmos um robalo grande.
O mar que considero ideal para o robalo é um mar nem demasiado forte nem demasiado manso.

 


O mar ideal para corricar ao Robalo.
Convém ter uma ondulação certa, ou seja, a espaços regulares, não muito alta, e que deixe um “rasto” de espuma branca quando passa a onda, sinal de que a água está bem oxigenada. Por cima de bancos de areia recém formados, para além de ser habitual haver ondulação com águas bem oxigenadas, ocorre também o depósito de areias novas com muita comedia vinda da lagoa (ou propícias ao seu aparecimento), sendo por isso um local predilecto para a pesca do corrico.
O Equipamento.
O material para o corrico convém ser o mais leve possível (dado que passamos muito tempo com o equipamento na mão) e o carreto muito resistente (para puxar constantemente uma chumbada contra a corrente e, por vezes, com lixo agarrado). As canas usadas costumam ter entre 4 a 5 metros, dependendo da altura do ano em que se pesca e do local (dentro da lagoa ou no mar). No inverno e no mar, convém usar canas maiores porque é necessário lançar mais longe e com mais peso. 
O uso de fios de multifilamentos (fibras) para o carreto começa a ser cada vez mais comum, pois permite usar diâmetros mais curtos para a mesma resistência dos fios de nylon, o que contribui para lançamentos mais longos. Por outro lado, este tipo de fios evita melhor que as algas se fixem neles (são mais cortantes e finos).
Na Foz do Arelho costuma usar-se, na maior parte das vezes, uma chumbada entre 60 e 100 gramas (dependendo do estado mar) para lançar a amostra e um “estralho” (fio de ligação da amostra à linha mestra do carreto) com cerca de 3,5 metros (quanto maior a cana, maior o estralho que se pode usar). Em certas situações, tem que se recorrer à bóia de água em vez da chumbada para apanhar robalos (quando eles andam muito à superfície). Pode-se, também, considerar a utilização da bombetes semi afundantes, pois evoluem em meia água e são mais facilmente arrastadas por correntes mais fracas (com mares batidos desaconselha-se o seu uso, pois retornam rapidamente até à beira-mar por acção da forte ondulação). Um substituto muito usado na Foz do Arelho (para as bóias de água da “Buldo” e para as bombetes) é o famoso frasco de cola “pica-pau” (em plástico branco) com água e areia no interior para afundar (além de um cordel com destorcedor duplo na tampa para prender a amostra e a linha mestra do carreto). Torna-se uma solução simples, eficaz e económica.
No final da linha mestra do carreto pode-se colocar um destorcedor duplo com um clip para encalce rápido da chumbada ou da bóia de água. Prende-se depois o estralho ao segundo destorcedor que gira em torno do primeiro (onde se fixa o clip de encalce da chumbada). Alternativamente, pode-se construir um sistema com missangas e um destorcedor simples no meio (ver foto nº3 sff). Estes sistemas evitam que o “estralho” fique embaraçado, situação esta que pode impedir o correcto funcionamento da amostra.

Para além deste equipamento, é essencial ter uns botins de pesca que cheguem ao peito ou um fato de surf ou de mergulho, pois muitas vezes é necessário pescar dentro de água (perto da ondulação) ou atravessar para bancos de areia mais dentro do mar. Neste caso, é imprescindível estar sempre muito atento à ondulação do mar e ás correntes da lagoa, para evitar sermos derrubados.
Em suma, o corrico na Foz do Arelho (e noutras rias, estuários e lagoas deste nosso Portugal) é uma pesca adequada a quem gosta de estar “dentro” do mar, sentir a ondulação por vezes até ao peito, andar à procura do peixe e atravessar para bancos de areia isolados onde o homem se envolve com a natureza de forma apaixonante.


Neste dia era necessário avançar mar a dentro, cerca de 200m.(entre os pontos vermelhos).
Por outro lado, a vantagem de não ser preciso adquirir iscos naturais é mais um aliciante, pois a qualquer momento e em qualquer local (desde que tenhamos o equipamento apropriado no porta-bagagens) podemos ir pescar e esquecer o “stress”. Mesmo em zonas rochosas, o corrico é uma técnica que produz bons resultados. Na serra do bouro, por exemplo, existem muitos pescadores das aldeias vizinhas que descem a serra e percorrem vários kilómetros ao longo do litoral rochoso à procura do robalo.


......................................................................Os resultados podem ser os melhores.

 

 



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